Quando é que fica bom? Por que caralhos a gente nunca tá satisfeito

Hoje caminhando na praia com meu filho… e quem anda na areia sabe: a praia conversa com a gente. O barulho do mar bate direto no peito e parece que abre umas gavetas que a gente guarda lá no fundo da mente. E no meio dessa caminhada, bateu uma pergunta simples, mas pesada:

Por que caralhos a gente nunca tá satisfeito com nada?

É isso mesmo.
A vida da gente é movida a sonho. É movida a fome de crescer.
E tudo bem, faz parte do ser humano.

Mas parece que esse bagulho não tem fim.

Se você tá sem trampo, o sonho é arrumar um.
Quando arruma um trampo, quer ganhar um pouco mais.
Ganha mil, quer dois.
Ganha dois, quer três.
Quando ganha dez mil, aí fodeu: agora quer vinte, trinta.

E a lista nunca acaba.
Nunca.

A gente vai pulando de desejo em desejo, como se estivesse sempre em falta, sempre devendo algo pra si mesmo.

Aí eu olhei pro mar e pensei:
“Será que a gente já não tá vivendo exatamente aquilo que sempre sonhou e não percebeu?”

Vou falar de mim pra ficar claro.

Eu cresci sonhando com praia.
Sonhando aquele sonho simples: ir pras férias na praia, sentir a maresia, comer um pastel na areia, voltar feliz pra vida de sempre.
Depois o sonho evoluiu:
“Imagina morar na praia… acordar todo dia com o barulho do mar.”

Era um sonho que parecia distante pra caramba. Eu queria morar em uma cidade praiana.

E olha eu aqui agora.
Morando na praia. De frente ao mar, areia separa meu portão da água.
Vivendo um pouco mais aquilo que eu pedi algumas vezes.
Trabalhando com o que eu construí com minhas próprias mãos, com corre, persistência, fé, dúvida, dor, depressão, derrota, vitória, tudo misturado.

Mas aí vem a parte curiosa.
Hoje, às vezes, bate vontade de sair daqui, de ir pra outro lugar, de mudar de ares.
Ou seja: eu conquistei o sonho… e logo invento outro.

É como se o coração humano tivesse um defeito de fábrica chamado “inquietação eterna”.
Conseguiu? Ótimo.
Agora quer outra coisa.

E aí veio a pergunta que me acertou no meio do pensamento:

Quando é que vai tá bom?

Quando é que a gente vai olhar pra nossa casa e sentir paz?
Quando é que vai parar essa mania de ampliar, melhorar, trocar tudo o tempo todo?
Quando é que a gente vai olhar pra vida e falar:
“Mano… eu consegui. Tá bom. Tá bonito. Tá suficiente.”

Talvez nunca.
E talvez… tudo bem.

Porque pensa:
Se a gente parar de sonhar, a alma desliga.
A vida perde o eixo.
O coração fica no piloto automático.

O sonho é o motor.
É o que faz o pobre levantar da cama.
É o que faz o cansado insistir.
É o que faz o fodido acreditar.

O sonho é o que fez eu e você chegar até onde estamos hoje.

Mas tem uma coisa que ninguém fala:

Sonhar é energia pra avançar, não desculpa pra desvalorizar o que você já tem.

Às vezes, mano…
Você já tá vivendo exatamente aquilo que pediu lá atrás.
E não percebe.
Ou percebe, mas quer transformar tudo em algo maior antes de aproveitar o agora.

O povo fala demais de ambição.
E quase nada de gratidão.
Fala muito de prosperar.
E fala pouco de respirar.

A vida é uma estrada longa, mas tem vista bonita no caminho.
E se você não parar pra olhar, vai passar por ela correndo feito um louco.

Caminhando na praia hoje, eu entendi uma parada:

Talvez o sentido da vida não seja chegar. Talvez o sentido seja caminhar.

Sentir o vento na cara.
Molhar o pé na água fria.
Olhar pro céu e pensar:
“Porra… eu tô aqui. Eu consegui. E continuo vivo pra querer mais.”

Sonhar faz parte.
Crescer faz parte.
Querer outro nível faz parte.

Mas entre o sonho que passou e o sonho que vem…
existe o agora.
E o agora, mano…
também merece respeito.

Às vezes, aquilo que você tanto pediu…

já tá contigo.
Você só precisa parar de correr por um minuto… e sentir.

E sem pressa.
A pressa nos empurra pro fim…

1 comentário em “Quando é que fica bom? Por que caralhos a gente nunca tá satisfeito”

  1. Mano li cada palavra, e me identifiquei imediatamente… penso que, essa inquietação que rege a humanidade, é porque estamos “aqui” nesse plano só de passagem, nessa atmosfera onde é eterna a busca, a insatisfação, o desejo desenfreado… quando estivermos no verdadeiro “Lar” talvez a paz encontre morada em nossos corações.

    Vivemos pensando no amanhã, porisso os sonhos que são reais hoje, ficam invisíveis, vazios e sem valor… realizações aderiva no mar dos turbilhões de emoções.

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