“Quem vê meu sorriso não sabe da dor que carrego. Quem vê minha luta não imagina a guerra que rola aqui dentro.”
Mano, eu não sei você, mas quando a mente trava e o peito pesa, eu me afundo em filmes e séries. Tenho lido pouco, mas também é minha fuga… me ajudam a esquecer por algumas horas que a cabeça tá a mil, que o globo tá um caos.
Madrugada adentro, perco o sono e tenho de levantar, ficar na cama remoendo os pensamentos me causa medo, é café atrás de café… um, dois, três. às vezes energético e uns raps que me identifico.
Mas tem dia que nem isso resolve. Eu acordo. Se é que durmo, e penso: “Caralho, o que tá acontecendo comigo?” A vida tá ali, girando, e eu aqui parado no meio do vendaval tentando entender onde foi que me perdi. Tudo parece sem sentido. E o pior: ninguém percebe. Ninguém entende. Ninguém quer entender.
Depressão. Uma palavra que parece tão banalizada nos dias de hoje. Usada em memes, em piadas, em exageros do dia a dia. Mas quando ela é real, crua e silenciosa, não tem nada de engraçado. Ela consome. Corrói. Paralisa.
Hoje, escrevo esse texto como um ser humano que já caiu, que ainda levanta todos os dias com esforço. Como alguém que demorou a entender o que a depressão realmente é. Como alguém que já julgou… até sentir na pele.
Aquele julgamento que eu mesmo já fiz
Eu vou ser real com você: eu já fui um desses que julga. Quando alguém dizia “tô com depressão”, eu achava que era frescura, falta do que fazer. Pensava: “Porra, vai arrumar um trampo, fazer alguma coisa da vida!” Julguei pra caramba. Falei besteira. Fui ignorante.
Achei que esse papo de “saúde mental” era invenção moderna. Até que a vida esfregou a realidade na minha cara. Pessoas próximas. Gente que eu gostava. Tentaram e algumas até conseguiram tirar a própria vida. E aí, mano… o chão sumiu. Foi um tapa. Eu fiquei em choque. Como assim? Eles estavam sorrindo, colando comigo, trampando, sonhando. E ao mesmo tempo chorava no quarto, estavam desmoronando por dentro?
Ali caiu minha ficha. E doeu pra kralho.
A dor deles me abriu os olhos. A minha própria dor me silenciou. E ali começou um processo lento, profundo, violento por dentro. Eu deixei de julgar. Comecei a sentir.
Quando a depressão chega sem motivo
A depressão não tem uma causa única. Às vezes vem depois de uma tragédia. Às vezes, do nada. Acorda com ela, dorme com ela, e ninguém percebe. A vida continua em volta, o trabalho exige, a família cobra, os amigos somem. E você, por dentro, vai murchando.
Na minha música “Depressão Pós Nada”, eu descrevo exatamente esse sentimento. Ah, a música, em breve eu lanço. Continuando! Não foi por algo específico. Foi uma quebra silenciosa. Um colapso interno que chegou sem bater na porta.
Tudo perde a cor. A comida não tem gosto. As conquistas não fazem sentido. O riso é mecânico. Você vai apagando sem que ninguém note.
A real é que tem dia que você acorda já quebrado. E não tem motivo. Não é que aconteceu uma desgraça. É tipo “depressão pós nada” mesmo, tá ligado? Você só sente o peso. Um bagulho invisível te esmagando.
A solidão de estar cercado de gente
A pior solidão é aquela que você sente no meio da multidão. Tem gente que me vê no corre, no trampo, sorrindo, falando, escrevendo, e acha que tá tudo suave. Amigos, familiares, colegas de trabalho, todos continuam suas rotinas. Você sorri, faz piada, finge que está tudo bem. Porque o mundo espera isso de você. Porque ninguém está preparado para lidar com o colapso do outro. Quando você ensaia desabafar, as respostas são sempre as mesmas:
— “Levanta a cabeça, isso passa.”
— “Ora mais.”
— “Você tem tudo, não pode reclamar.”
— “É só uma fase ruim.”
Porra… se fosse tão fácil, já tinha feito. A galera não entende que não é tristeza, é doença. É química. É vivência acumulada. É trauma que a gente varreu pra debaixo do tapete por anos. Sei lá! É a mente gritando socorro e o corpo travado.
E então você desiste de tentar explicar. Se cala. Guarda. Tranca. Engole o choro. E se afoga. Não é frescura, não é falta de Deus, nem fraqueza. É um colapso químico, emocional e existencial. É uma guerra silenciosa que se trava todos os dias dentro da mente.
Sorriso não diz porra nenhuma. E cansa
Pra ser claro, é falando, escrevendo que disfarço a dor, minto pra mim mesmo, tentando me sabotar das profundezas. Mas ninguém vê, poucos sabem das madrugadas que passo virado. Ninguém vê o cansaço mental. As crises de ansiedade. A angústia. A insônia.
E mesmo rodeado de gente, ainda me sinto só pra kralho. É foda admitir isso. Mas é real. Porque, infelizmente, a maioria prefere se afastar de quem tá mal. E se você não corresponde à expectativa de estar sempre “pra cima”, te deixam de lado. Tipo: “Esse aí tá estranho”.
Mas tudo bem, na maioria das vezes, eu realmente quero estar só, talvez pela preocupação de deixar os outros ruim, o medo de por pouca coisa direcionar uma palavra ruim, ou ser agressivo.
As noites intermináveis e o diálogo com a escuridão
A noite sempre foi um lugar de paz para mim. Nas madrugadas eu tinha minhas ideias malucas, que viraram negócios, trabalhos, ganha pão. Mas, na depressão, ela se transforma em território hostil. O travesseiro vira confessionário de lágrimas que ninguém vê. O teto, uma tela de pensamentos repetitivos. A insônia é companhia constante. E quando o sono chega, é leve, frágil, interrompido por pesadelos ou angústias inexplicáveis.
É nesse momento que a cabeça começa a pregar peças perigosas. Surgem perguntas sem resposta:
— “Por que estou aqui?”;
— “Vale a pena continuar?”;
— “Será que alguém notaria se eu sumisse?”.
E o mais assustador: surgem respostas. Ruins. Frias. Definitivas. No fundo, o que a gente quer é alívio. Um intervalo da dor. Mas o mundo não oferece isso. O tempo passa, as cobranças continuam, e o peito aperta mais ainda.
A depressão rouba o sono. A mente vira um campo de batalha madrugada adentro. Você se deita querendo descanso e encontra tormento. Lembra de tudo. Repassa cada fracasso. Imagina o pior. E o pior, às vezes, começa a parecer uma saída.
Muita gente só não tira a própria vida porque ainda tem alguém por quem viver. Um filho. Um amor. Um sonho. Mas tem dias que nem isso segura. E a gente se sente ingrato por pensar assim. Covarde. Mas não é covardia — é desespero.
Tem período que preciso me dopar. Tomar remédio pra apagar. Ter que parar, resetar, dormir pra não enlouquecer. E não me envergonho disso, não mais. Às vezes é o único jeito de aguentar. De não pirar. De não fazer uma besteira.
O rap me segura. Café me acompanha. Gente de verdade me salva.
Nas madrugadas, o rap me dá uns tapas de realidade. Escuto, leio, letras que parecem escritas com meu sangue. Letras que falam de dor, de superação, de quebrada, de trauma. Isso me mantém vivo. Junto com o café, meu parceiro das 3, 4, 5 da manhã.
Mas tem um ponto que eu preciso reforçar aqui: não dá pra generalizar. Tem gente que se afastou, sim. Mas tem poucas pessoas que foram cruciais. Gente que colou do meu lado sem fazer alarde, sem cobrar positividade tóxica. Gente que só escutou. Que respeitou meu tempo. E a essas pessoas, eu sou eternamente grato.
Elas não apagaram a dor, mas foram abrigo quando a tempestade apertou.
Por que ninguém entende?
Muita gente ainda vê a depressão como drama. Como falta de fé, de gratidão, de força. Mas não é. É uma doença. Real. Mortal. Silenciosa. E que pode atingir qualquer pessoa: rica, pobre, religiosa, ateia, polícia, ladrão, famosa, anônima. Ninguém está imune. E é justamente por ser invisível que ela se torna tão cruel. Porque o mundo não para pra entender.
Vivemos em uma sociedade que exige produtividade, desempenho, presença, sorriso. Se você falha, decepciona. Se se ausenta, incomoda. Então você veste a máscara. E segue. Até que a máscara gruda no rosto e você já não lembra mais quem é sem ela.
A dor que não se vê machuca muito mais
Se eu tivesse quebrado um braço, todo mundo ia notar. Mas quando a mente quebra, ninguém vê. E aí vem o julgamento. O afastamento. O silêncio. Você começa a se sentir um peso. Um estorvo. Um problema.
E mano… esse pensamento é perigoso pra kralho.
Eu sei porque eu já pensei nisso. Já fui pra beira do abismo. Já cogitei que talvez minha ausência fosse melhor que minha presença. E isso não é drama. Isso é desespero.
Não é todo dia que eu tenho força
Tem dia que eu acordo na força do ódio. Tem dia que acordo só por acordar. Me sinto só o pó. Sem ação, sem plano, só pra cumprir tabela. E nesses dias, escrever me salva. A música me segura. A arte me dá um propósito.
A depressão não se cura com frase pronta, nem com “pensamento positivo”. Ela exige coragem pra pedir ajuda. Pra aceitar tratamento. Pra continuar, mesmo sem ver sentido.
Eu ainda luto. Ainda tenho dias difíceis. Ainda tenho pensamentos que me assustam. Ao escrever esse texto por exemplo, estava me sentindo abatido. Mas agora eu entendo. E isso faz toda diferença.
Terapia, medicação, fé, arte, tudo isso me ajuda. Cada um encontra seu próprio caminho. Mas o primeiro passo é sempre o mesmo: reconhecer a dor e parar de fingir que ela não existe.
Eu não tô aqui pra bancar coach nem herói. Tô aqui como um igual. Como alguém que ainda cai. Que ainda tem recaída. Que ainda trava. Mas que tá tentando.
Você sente algo semelhante? Respira. De verdade. Respira fundo. Você não tá sozinho nessa porra. Tem gente que te ama, mesmo que você ache que não.
A é guerra silenciosa, mas a gente luta junto
A depressão é uma guerra. Invisível. Cruel. Mas não invencível. Não se vence sozinho. E tá tudo bem precisar de ajuda. Tá tudo bem cair. Tá tudo bem chorar.
Só não deixa de levantar. Mesmo que seja devagar. Mesmo que seja com café e rap como combustível.
Esse texto!
É pra você que sorri pros outros, mas chora no banheiro.
É pra você que não sabe explicar o que sente.
É pra você que ainda tá aqui, mesmo sem saber como conseguiu.
Você é foda, mesmo que não acredite nisso agora.
E se tudo parecer perdido, lembra: ainda tem caminho. Sempre tem.